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A lógica da fatalidade
A única certeza da vida é a morte. Mais socialista do que qualquer pessoa ou ideia, ela espera a todos igualmente, sem nenhuma espécie de pré-conceito.
É comum, principalmente entre pessoas maduras e sensatas, entender e aceitar a morte com naturalidade. Alguns podem achar que conhecerão e viverão eternamente em uma nova dimensão, outros acham que será uma inconsciente escuridão infinita. Em qualquer caso, pensar na própria morte raramente leva à pessoa algum tipo de angústia ou trauma. Entretanto, esse assunto pode se tornar muito mais complicado quando se trata da morte de um ente querido.
Lidando com a frustração da perda
Certa vez eu estava em uma pequena fila do caixa de uma padaria. Não muito distante uma criança pediu um doce para a mãe. Embora ela tenha sido discreta, eu consegui ouvi-la dizendo não poder comprar porque estava sem dinheiro. Já me preparei pra uma situação desconfortável: a de uma criança começar a berrar, espernear, deitar no chão e não parar mais enquanto não consegue o que quer. Mas ao invés disso ela simplesmente baixou a cabeça, triste. Surpreendido e com o coração partido, eu pedi licença e comprei o doce.
Quando uma pessoa querida morre, o sentimento decorrente é comum a todos: o de perda, tristeza. Sabemos que qualquer sentimento que seja não dura pra sempre, mas o problema é que em situações como essa não temos que lidar apenas com sentimentos, mas também com reações, que podem ser as mais variadas, desde choro intermitente até ao suicídio. Entenda que o tipo de resposta que você dá a um problema depende da sua capacidade de lidar com frustrações. Por exemplo: se você perder a casa própria, seja por hipoteca ou incêndio, pode se entristecer e se acomodar a viver de aluguel. Por outro lado, pode trabalhar bastante, estudar os melhores financiamentos e não descansar até comprar outra. Mas quando morre alguém próximo, não importa o que você faça, nem o tamanho da tua dor, ele simplesmente não vai voltar.
É nesse momento que vemos muitos “adultos” se comportando como crianças. Berram, esperneiam e guardam rancor sem saber necessariamente de quem. Não é de se admirar quando direcionam o rancor para a pessoa que faleceu. Então se isolam do restante da família, procuram refugiar a mente em qualquer outra coisa que não seja o luto, como bebida, drogas, etc.
Alguém que se encontrava nessas circunstâncias me perguntou: “Então você quer que eu faça o quê?”
Ao que eu respondi: “Nada.”
Esse tipo de resposta parece ser um contrassenso, mas às vezes é importante apenas estar ali. “Não quero que você faça nada. Absorva esse momento. SINTA essa dor. Não importa o quanto você fuja, ela sempre estará lá. Ela agora faz parte de você, e você não pode fugir de você mesmo pra sempre. Quando você estiver no controle da casa, ela eventualmente vai se cansar e ir embora, mas enquanto você estiver ausente, é ela quem vai dominar.”
E então?! Como VOCÊ, leitor, se comporta diante disso? Adoecendo e preocupando também a sua família, sem se importar que ela também esteja precisando da sua ajuda? Ou aceitando um fato e agradecendo pela vida de quem te fez tão bem e agora está descansando em paz?