Blog

Os efeitos nocivos do álcool

A nossa cultura não apenas valoriza, mas também incentiva a ingestão de bebidas alcoólicas. A bebida está associada à alegria, reuniões sociais, festas entre amigos, família etc. Beber cerveja, ou vinho, com amigos é um comportamento tão natural que se alguém disser que não irá beber provocará no restante do grupo espanto ou até mesmo escárnio. Então muitas pessoas que nem mesmo gostam acabam também bebendo para evitar gracejos e, na pior das hipóteses, a exclusão de determinado grupo social.

Mas se existe tanta felicidade em um ato tão banalizado como esse, porque é que existem tantas vidas destruídas devido a essa bebida? Onde é que encontramos a verdade em tantas tradições, opiniões e argumentos?

A verdade, como sempre, está nos FATOS. E é a isso que devemos nos ater quando estivermos em busca de informações, principalmente quando se busca uma vida saudável e verdadeiramente feliz. E os fatos que muitas pessoas ignoram, ou simplesmente não se importam, estão nos números absurdos de taxas de desemprego, violência doméstica, quebra de estrutura familiar, doenças, acidentes e morte devido ao alcoolismo.

De acordo com a OMS (Organização Mundial da Saúde) cerca de três milhões de pessoas morrem no mundo devido ao álcool, POR ANO. O consumo exagerado e prejudicial do álcool é responsável por 5,1 por cento da carga global de doenças. O álcool é o principal fator de risco para mortalidade prematura e incapacidade entre aqueles com idade entre 15 e 49 anos, sendo responsável por 10 por cento de todas as mortes nessa faixa etária. Populações desfavorecidas e especialmente vulneráveis apresentam taxas mais altas de morte e hospitalização relacionadas ao álcool. Por isso a OMS traçou uma estratégia há um pouco mais de dez anos para reduzir o uso nocivo de bebidas alcoólicas em pelo menos 10%.

Há resultados positivos no Brasil: de 2010 para 2016 o consumo de álcool caiu de 8,8 litros para 7,8 litros. E a proporção de óbitos atribuídos ao álcool também diminuiu. Entretanto, o consumo de álcool por jovens e adolescentes do sexo feminino aumentou de 14,9% para 18%. Em relação a acidentes de trânsito, em 2016 o álcool esteve associado a 23% envolvendo mulheres e 36,7% envolvendo homens. O Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes alertou em fevereiro de 2021 que mais de 50% dos acidentes de trânsito envolvem motoristas que dirigem alcoolizados. De maio a junho de 2020, a Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) realizou uma pesquisa em 33 países e dois territórios e constatou que 42% dos entrevistados no Brasil aumentaram o consumo de álcool durante a pandemia. Ou seja, com o fechamento de bares e restaurantes, as pessoas têm bebido mais em casa. Apenas o confinamento em si já tem aumentado a tensão acima do limite, e o consumo do álcool dentro de casa tem contribuído muito para vários malefícios na estrutura familiar, principalmente a violência doméstica. O Cebrid aponta que 52% dos casos de violência dentro de casa têm relação com o álcool.

Com tantos malefícios que o álcool faz para o indivíduo e para a sociedade, não deveríamos parar pra pensar se deveríamos ter uma postura diferente em relação à bebida da mesma forma como fizemos com o cigarro? Lembrando de todas as mudanças sociais e campanhas para coibir o fumo, vamos analisar que o fumante, quando não está fumando ao lado de mais ninguém, faz mal apenas para ele. Mas alguém que bebe em excesso não prejudica somente a si mesmo, mas aos seus colegas, amigos e também a sua família, como vimos até agora. 

Então o que seria mais correto? Pararmos de beber completamente ou diminuirmos a quantidade de ingestão de bebida alcoólica? Existe uma piada muito viralizada nas redes sociais em que um humorista diz: “Olha, EU bebo apenas UM copo de cerveja, mas aí eu me torno uma outra pessoa. E essa pessoa BEBE PRA CARAMBA…”  – e isso é bem verdade quando se trata de beber. Afinal, são raras as pessoas que se dispõem a sentar com amigos para beber apenas uma garrafa de cerveja. E o problema é esse. Um estudo da OMS aponta que nosso fígado demora uma hora e meia para conseguir metabolizar somente 30 gramas de álcool. Portanto, não há quantidade mínima de álcool que se isente de riscos à saúde. Quando você bebe mais do que 30 gramas de álcool em um curto período, o restante do etanol em excesso vai direto para as artérias que fazem sua distribuição para todos os órgãos, destruindo células (principalmente as células nervosas que são os neurônios). Aliás, o álcool é uma droga que penetra em TODAS as células do seu corpo. E como o coração e o cérebro são órgãos sensíveis,  você corre riscos de sofrer um infarto agudo do miocárdio e um acidente vascular cerebral. Além disso, a perda de neurônios devido ao álcool está associada a uma grande lista de transtornos mentais, com sérios agravantes se o usuário já tinha algum tipo de transtorno antes da dependência alcoólica. Aproximadamente 50% dos pacientes com transtorno mentais graves desenvolvem problemas relativos ao consumo de álcool ou outras substâncias entorpecentes. Além dos riscos da própria intoxicação aguda, também há riscos de desenvolver síndrome de dependência, transtornos psicóticos induzidos pelo álcool, síndrome amnésica entre outros. O consumo do álcool aumenta drasticamente os transtornos de ansiedade e depressão, principalmente nas camadas sociais onde há baixa qualidade de vida.

Há ainda muito mais a ser dito sobre os malefícios do álcool. Afinal, nosso corpo é composto majoritariamente por água. Não fomos feitos para ingestão de álcool. Por isso que ninguém gosta do sabor do álcool, mas do efeito “relaxante” que ele provoca. É gostoso festejar com familiares e amigos com um copo de cerveja gelada na mão? Claro que é! Mas como tudo na vida, isso tem consequências. E para algumas pessoas essas consequências são catastróficas. As informações eu estou providenciando aqui, mas a escolha é somente sua.

Referências bibliográficas:

DIEHL A; CORDEIRO D; LARANJEIRA R [et al.]. Dependência química: prevenção, tratamento e políticas públicas. Porto Alegre: Artmed, 2011. ISBN 978-85-363-2503-3

Álcool e a Saúde dos Brasileiros: Panorama 2020 / Organizador: Arthur Guerra de Andrade. – 1. ed. – São Paulo: Centro de Informações sobre Saúde e Álcool- CISA, 2020.

https://www.gov.br/dnit/pt-br/assuntos/noticias/tenha-responsabilidade-no-transito-alcool-e-direcao-nao-combinam

Uso de álcool durante a pandemia de COVID-19 na América Latina e no Caribe. Organização Pan-Americana da Saúde 2020. Número de referência: OPAS/NMH/MH/Covid-19/20-0042

Vigitel Brasil 2019: vigilância de fatores de risco e proteção para doenças crônicas por inquérito telefônico: estimativas sobre frequência e distribuição sociodemográfica de fatores de risco e proteção para doenças crônicas nas capitais dos 26 estados brasileiros e no Distrito Federal em 2019 [recurso eletrônico] / Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde, Departamento de Análise em Saúde e Vigilância de Doenças não Transmissíveis. – Brasília: Ministério da Saúde, 2020.

Laranjeira R, Duailibi S, Pinsky I. Álcool e violência: a psiquiatria e a saúde pública. Editorial Rev Bras Psiquiatr. 2005;27(3):176-7.

https://iris.paho.org/bitstream/handle/10665.2/52936/OPASNMHMHCOVID-19200042_por.pdf?sequence=5&isAllowed=y

SANTOS M; CAMPOS M; FORTES S. Relação do uso de álcool e transtornos mentais comuns com a qualidade de vida de pacientes na atenção primária em saúde. Ciência & Saúde Coletiva, 24(3):1051-1063, 2019 DOI: 10.1590/1413-81232018243.01232017

ALVES H; KESSLER F; RATTO L. Comorbidade: uso de álcool e outros transtornos psiquiátricos. Rev Bras Psiquiatr 2004;26(Supl I):51-53.