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Postergando o psiquiatra

Imagine que você fez um corte de cinco centímetros na perna. Você apenas limpa o sangue, mas está ocupado e não dá mais nenhuma atenção ao ferimento. Depois de um tempo, começa a sentir as dores da inflamação, mas ainda não toma nenhuma atitude. Então o ferimento começa a infeccionar. Acho que todos sabemos que quando não se trata adequadamente uma infecção, a ferida começa a inflamar.

Pois no sofrimento psíquico as feridas que se abrem não são visíveis aos olhos, mas mesmo assim latejam, doem e quando não cuidadas também “inflamam” a ponto de algumas vezes incapacitar completamente.

A demora em procurar ajuda agrava a doença

O principal motivo da demora ao procurar um psiquiatra ainda é o medo exagerado sobre o que pode acontecer com a mente e com a imagem perante à sociedade.

Além da obtenção do diagnóstico e do tratamento, uma resolução prática da primeira consulta psiquiátrica consiste na quebra de diversos tipos de mitos e medos. Contudo, o principal problema está justamente na lacuna temporal entre o início da doença e a busca por ajuda. A primeira visita ao psiquiatra serve justamente para fazer o paciente entender a importância de admitir que está doente e fazer todo o tratamento necessário sem qualquer tipo de acanhamento. Mas enquanto ele não toma a atitude de ir ao psiquiatra, não há primeira visita. É de se esperar que o paciente tenha escrúpulos de procurar um psiquiatra baseado em um constrangimento totalmente irreal e absurdo, como o medo de ser visto como um fraco, um inepto, ou até mesmo um louco (um dos medos mais comuns). Enquanto isso, a doença vai se agravando e dificultando o tratamento, gerando “cicatrizes emocionais” de forma tão profunda que dificilmente irá sarar.

O paciente que mesmo sentindo a doença piorar ainda continua sem procurar ajuda psiquiátrica precisa se concentrar nos motivos que levantam essa barreira. E como vivemos em um mundo egocêntrico, que valoriza tanto a imagem pessoal a ponto de considerá-la mais um recurso patrimonial do que humano, esse exacerbado empecilho pode estar em um dos mais recônditos vãos em sua personalidade, onde cautelosamente uma de suas características tenta se libertar de seus grilhões: a arrogância.

É ela que te faz valorizar o orgulho acima do amor próprio e acima do amor aos familiares que se importam verdadeiramente contigo e querem te ver bem. É ela quem ilude ao te fazer sentir que está sendo cuidadosamente observado por todos os que o cercam socialmente, e que te cega ao não te deixar ter a mínima noção de que todas essas pessoas estão muito mais preocupadas com seus próprios problemas do que com a tua vida e, na verdade, não têm nem tempo de procurar saber se você está indo ao psiquiatra, ou ao cardiologista ou ao dentista. Vale a pena refletir: será que compensa tamanho estrago?

Enquanto você não se decide, a demora prolonga o sofrimento e faz com que a doença se agrave, dificultando um tratamento que poderia ser muito mais fácil se a primeira visita tivesse ocorrido logo no início.

Pare de se preocupar com a opinião alheia e procure um psiquiatra o mais rápido possível!