Dr. Lívio Andrade Psiquiatria https://drlivioandrade.com Médico Psiquiatra Thu, 06 May 2021 19:57:11 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=6.5.3 https://drlivioandrade.com/wp-content/uploads/2020/02/Flavicon2-150x150.png Dr. Lívio Andrade Psiquiatria https://drlivioandrade.com 32 32 Fogo e álcool https://drlivioandrade.com/fogo-e-alcool/ https://drlivioandrade.com/fogo-e-alcool/#respond Tue, 04 May 2021 17:40:59 +0000 https://drlivioandrade.com/?p=1431 Fogo e álcool Leia mais »

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Fogo e álcool

Os azulejos frios do banheiro são o seu próprio corpo neste momento. A privacidade e proteção ora providenciados pela suíte se transverteram em um forte incômodo. Aliás, nenhum outro lugar consegue lhe oferecer conforto após ter perdido a mulher para o câncer e a empresa para o álcool. Havia acabado de tomar banho, mas sentiu que voltou a suar. No espelho ele observa os olhos vermelhos, as rugas que antes não percebia e, por fim, as mãos trêmulas. Alberto precisa beber para se sentir melhor, mas se fizer isso não poderá comparecer à entrevista de emprego. “Não tenho saída. pensou ele, desistindo. “Nem era um emprego tão bom.

Alberto vai até a sala e se joga em um sofá. Um rapaz aparentando 17 ou 18 anos caminha pelo cômodo em direção à porta. Alberto lhe deseja um bom dia com um sorriso desgrenhado, mas como se não houvesse ninguém mais além dele, o rapaz simplesmente abre a porta e sai. O desprezo do próprio filho lhe fere na alma. Nem ele e nem seus irmãos nunca o perdoaram por ter estado sempre bêbado nos momentos em que sua mãe mais precisou e por não ter parado de beber após ela ter morrido. Subitamente uma ansiedade lhe corrói quando ele lembra que suas economias praticamente acabaram e ele não vai mais conseguir sustentar o que sobrou de sua família e de sua casa. “Preciso deste emprego mas ao se levantar sente a tremedeira e a sudorese aumentarem. Senta-se novamente lutando contra a vontade avassaladora de beber. Praticamente suplica em oração: “Como eu gostaria de voltar no tempo e nunca colocar uma gota de álcool na boca…

Todos sabem que o álcool faz mal para a saúde, mas poucos têm consciência do seu verdadeiro poder destrutivo, tanto para quem bebe, quanto para a sociedade. Entretanto, bebemos freneticamente, num esforço social e cultural para fomentar um espírito sempre alegre e festivo enquanto evitamos a face do alcoolismo. Desse modo, uma pessoa saudável sequer considera parar com a cervejinha no final de semana. Quando ouve a história triste de um alcoólatra, sente que é algo algo distante, que nunca acontecerá consigo ou com alguém de sua própria família. Até que um dia acontece. E poderia ter sido evitado se houvesse simplesmente mais zelo e cautela ao lidar com o álcool. Quantas famílias se desestruturaram? Quantas vidas foram destruídas? Quantos mais prejuízos ainda precisamos sofrer para tratarmos isso com mais seriedade?

Ainda não temos a resposta porque quem bebe muito ou pouco não está interessado em conversar a respeito, apenas entocam a fera e fingem que ela não existe. E isso por si só já é um OUTRO problema. Precisamos iluminar essa caverna nos aprofundando em todos os detalhes desse tema para sabermos como combater esse monstro, e é por isso que escrevo este texto. Por exemplo, poucos param pra pensar que o álcool é um líquido altamente inflamável e seu sabor é horrível. Mas os efeitos são literalmente sensacionais, então bebem para suspender a inibição e aumentar a confiança. Bebem para esquecer os problemas. Bebem para acabar com a tristeza e a ansiedade sem se dar conta de que  transtornos mentais (como esquizofrenia, ansiedade e depressão, etc) são como uma enorme fogueira terrivelmente devoradora e estrepitante. E o que acontece quando se joga álcool no fogo?

Se você disser que muitas pessoas irão beber por toda a vida sem maiores problemas eu serei obrigado a concordar. Por outro lado, outras pessoas são geneticamente propícias a adquirir dependência do álcool e a ciência ainda não descobriu como decodificar esse tipo de genes. Nesse caso, enquanto não conseguirmos detectar com antecedência essas pessoas para alertá-las, precisamos informar toda a sociedade sobre os malefícios do álcool que abrangem mais do que doenças em seu próprio organismo. E se fosse ainda só o caso de algumas horas de alteração no humor, de personalidade ou perda dos sentidos devido ao excesso de bebida em raras ocasiões, o mal seria menor. Bebedeira esporádica pode vir a ser, mas ainda não se trata de alcoolismo. O grande problema é a síndrome da dependência do álcool. Essa síndrome é caracterizada pela priorização absoluta e diária do álcool, onde tudo o mais fica em segundo plano. Até mesmo a própria vida. Por isso o alcoolismo é considerado um transtorno mental de maior preponderância.

De acordo com o DSM-5 (Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais 5ª edição), a dependência do álcool acarreta o desejo persistente ou esforços mal sucedidos no sentido de reduzir ou controlar o uso de álcool. Ainda a fissura ou um forte desejo ou necessidade de usar álcool (grifos meus). Ou seja, mesmo com tudo dando errado em decorrência do álcool, o alcoólatra não consegue parar de beber.

Imagine um dependente alcoólico numa consulta com um gastroenterologista. Ele está sozinho, porque sua mulher não aguentou mais tanta bebedeira e pediu o divórcio. Seus amigos o evitam. Seus filhos mais ainda. Como perdeu o emprego, o dinheiro encurtou e ele acabou demorando muito para procurar um médico. Finalmente recebe o diagnóstico: “Você está com cirrose hepática”. E o que acontece em seguida? Se não forem tomadas as devidas providências para uma internação imediata, ele volta pra casa e bebe de novo.

Gosto de lembrar de uma cena do filme Hércules, da Disney, em que o herói luta com uma hidra e lhe corta uma cabeça. Duas nascem no lugar. Então ele corta outra cabeça e mais duas nascem. E mais duas. E mais duas. Até que o sátiro, seu treinador, lhe grita na versão dublada do filme: “QUER PARAR DE CORTAR ESSAS CABEÇAS?Voltado para o exemplo acima, qual o problema dessa pessoa? Ele enlouqueceu? Se o álcool está destruindo sua vida em escalas tão absurdas, porque ele simplesmente não para?

Porque ele não pode. Seu organismo está dependente do álcool, quase da mesma forma que uma pessoa saudável precisa de comida, água e ar para sobreviver. E se com muita força de vontade o alcoólatra insistir em não beber, em cerca de apenas seis horas surgirá em seu corpo uma série de sintomas. A síndrome da abstinência do álcool é um conjunto de sintomas e sinais que o alcoólatra pode sofrer com variação de tempo e intensidade, tanto se parar abruptamente com a ingestão alcoólica quanto se apenas diminuir sua ingestão. Alguns experienciam leves incômodos, mas outros amargam choques tão fortes que podem até mesmo vir a falecer.

Os sintomas da síndrome da abstinência do álcool são: ansiedade, náuseas, insônia, tremores, sudorese, desidratação, desorientação, hipertensão arterial sistêmica, insuficiência renal, sangramento digestivo, convulsões, sintomas psicóticos e delirium tremens. Aliás, esse último é um dos sintomas mais fortes e com um potencial enorme de fatalidade. No caso de qualquer desses sintomas estarem em um nível grave e de uma rede social de apoio inexistente (ou seja, se o alcoólatra não tem família ou amigos para lhe ajudar), a internação imediata é altamente recomendada.

Mesmo um alcoólatra que não esteja em um quadro de nível tão estressante ainda pode sofrer de deficiências cognitivas devido ao álcool, ou síndromes demenciais associadas ao álcool. Como eu disse em meu último texto, nossas células são feitas de água e não resistem à absorção do etanol. Por isso, muitos neurônios são mortos. Consequentemente, o cérebro sofre lesões difusas diminuindo a capacidade de julgamento e abstração. O comportamento é alterado e há perda de memória recente e de cognição, que pode variar de leve até grave ocasionando a demência. Em outras palavras, o álcool enlouquece.

Você deve ter ficado estarrecido com essas informações sintetizadas e resumidas que leu até aqui. E eu imagino o seu espanto porque a maioria não sabe nada sobre isso. A glamourização da bebida na propaganda da “felicidade” em um copo gelado vende. O alcoolismo não. Coisas feias e sujas costumam ser escondidas ou varridas para debaixo do tapete.

Geralmente, quando a ignorância sobre o álcool acaba, é normal se perguntar: “E agora? Devo parar de beber com meus amigos? Tenho potencial para me tornar um alcoólatra?

Muito se tem feito para prevenir os riscos e os malefícios oriundos do excesso de bebida. Aliás, o combate ao alcoolismo tem sido considerado prioridade pelo nosso Ministério da Saúde há décadas. Mas a vergonha e o medo da estigmatização do alcoolismo geralmente se sobrepõem à busca por socorro. Soma-se isso à inexistência de critérios para a indicação de uma quantidade de álcool segura a ser ingerida. Foi devido a basicamente esses problemas que surgiram métodos excepcionais para obtenção de informações e rastreamento do uso problemático do álcool chamados instrumentos de triagens. E o que mais se sobressai é o AUDIT.

Elaborado pela OMS (Organização Mundial da Saúde) o AUDIT (Alcohol Use Disorder Identification Test) é considerado hoje o melhor teste de Identificação de Distúrbio do Uso do Álcool. Trata-se de um pequeno questionário muito rápido e de fácil aplicação e tem apresentado excelentes resultados na detecção do uso nocivo do álcool, tanto no início quanto em fase avançada.

Para quem já está situado em altos níveis de risco no quadro alcoólico, a ajuda mais recomendada é a do grupo dos Alcoólicos Anônimos, que se destaca entre outras organizações destinadas a esse fim, como instituições religiosas e clínicas de tratamento para dependentes químicos. Sua metodologia para o controle e total abstinência do álcool consiste na troca de experiências e a ajuda mútua entre os alcoólatras, e tem sido considerada uma das mais efetivas. É nesse grupo que o alcoólatra recebe a indicação do livro OS DOZE PASSOS, leitura indispensável para todo usuário nocivo do álcool que precisa entender que perdeu o controle da sua própria vida e precisará de ajuda para o resto da vida, pois o alcoolismo não tem cura. Mas desde que se obtenha sucesso na abstinência do álcool, não há necessidade para desespero. Afinal, um alcoólatra pode fazer tudo o que uma pessoa saudável faz, exceto beber. E também deve viver feliz, assim como qualquer pessoa que não bebe, pois as pessoas que não bebem são maioria. Quem bebe apenas faz muito mais barulho.

Enfim, além de todos esses problemas descritos até aqui, entenda que o alcoolismo é uma doença e o alcoólatra precisa da sua ajuda, pois além da doença, ainda precisa lutar contra a exclusão social. Quem não tem problemas com álcool nem imagina o quanto um alcoólatra é marginalizado. Colegas de trabalho, amigos e familiares não o convidam mais para festas ou até mesmo para simples encontros, tanto por preconceito quanto por medo de constrangimentos e escândalos. Portanto, se você não gosta de beber, mas o faz apenas por causa da insistência de amigos ou familiares, saiba que existe uma grande possibilidade de as mesmas pessoas que hoje implicam contigo por não beber acabarem te excluindo de seus círculos caso você um dia se torne um dependente alcoólico.

Poupe o etanol para o carro, para matar vírus e bactérias e apague o fogo com água!

 

Referências bibliográficas:

DIEHL A; CORDEIRO D; LARANJEIRA R [et al.]. Dependência química: prevenção, tratamento e políticas públicas. Porto Alegre: Artmed, 2011. ISBN 978-85-363-2503-3

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https://vivamais.cecom.unicamp.br/teste-audit/

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Os efeitos nocivos do álcool https://drlivioandrade.com/os-efeitos-nocivos-do-alcool/ https://drlivioandrade.com/os-efeitos-nocivos-do-alcool/#respond Mon, 12 Apr 2021 14:31:54 +0000 https://drlivioandrade.com/?p=1409 Os efeitos nocivos do álcool Leia mais »

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Os efeitos nocivos do álcool

A nossa cultura não apenas valoriza, mas também incentiva a ingestão de bebidas alcoólicas. A bebida está associada à alegria, reuniões sociais, festas entre amigos, família etc. Beber cerveja, ou vinho, com amigos é um comportamento tão natural que se alguém disser que não irá beber provocará no restante do grupo espanto ou até mesmo escárnio. Então muitas pessoas que nem mesmo gostam acabam também bebendo para evitar gracejos e, na pior das hipóteses, a exclusão de determinado grupo social.

Mas se existe tanta felicidade em um ato tão banalizado como esse, porque é que existem tantas vidas destruídas devido a essa bebida? Onde é que encontramos a verdade em tantas tradições, opiniões e argumentos?

A verdade, como sempre, está nos FATOS. E é a isso que devemos nos ater quando estivermos em busca de informações, principalmente quando se busca uma vida saudável e verdadeiramente feliz. E os fatos que muitas pessoas ignoram, ou simplesmente não se importam, estão nos números absurdos de taxas de desemprego, violência doméstica, quebra de estrutura familiar, doenças, acidentes e morte devido ao alcoolismo.

De acordo com a OMS (Organização Mundial da Saúde) cerca de três milhões de pessoas morrem no mundo devido ao álcool, POR ANO. O consumo exagerado e prejudicial do álcool é responsável por 5,1 por cento da carga global de doenças. O álcool é o principal fator de risco para mortalidade prematura e incapacidade entre aqueles com idade entre 15 e 49 anos, sendo responsável por 10 por cento de todas as mortes nessa faixa etária. Populações desfavorecidas e especialmente vulneráveis apresentam taxas mais altas de morte e hospitalização relacionadas ao álcool. Por isso a OMS traçou uma estratégia há um pouco mais de dez anos para reduzir o uso nocivo de bebidas alcoólicas em pelo menos 10%.

Há resultados positivos no Brasil: de 2010 para 2016 o consumo de álcool caiu de 8,8 litros para 7,8 litros. E a proporção de óbitos atribuídos ao álcool também diminuiu. Entretanto, o consumo de álcool por jovens e adolescentes do sexo feminino aumentou de 14,9% para 18%. Em relação a acidentes de trânsito, em 2016 o álcool esteve associado a 23% envolvendo mulheres e 36,7% envolvendo homens. O Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes alertou em fevereiro de 2021 que mais de 50% dos acidentes de trânsito envolvem motoristas que dirigem alcoolizados. De maio a junho de 2020, a Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) realizou uma pesquisa em 33 países e dois territórios e constatou que 42% dos entrevistados no Brasil aumentaram o consumo de álcool durante a pandemia. Ou seja, com o fechamento de bares e restaurantes, as pessoas têm bebido mais em casa. Apenas o confinamento em si já tem aumentado a tensão acima do limite, e o consumo do álcool dentro de casa tem contribuído muito para vários malefícios na estrutura familiar, principalmente a violência doméstica. O Cebrid aponta que 52% dos casos de violência dentro de casa têm relação com o álcool.

Com tantos malefícios que o álcool faz para o indivíduo e para a sociedade, não deveríamos parar pra pensar se deveríamos ter uma postura diferente em relação à bebida da mesma forma como fizemos com o cigarro? Lembrando de todas as mudanças sociais e campanhas para coibir o fumo, vamos analisar que o fumante, quando não está fumando ao lado de mais ninguém, faz mal apenas para ele. Mas alguém que bebe em excesso não prejudica somente a si mesmo, mas aos seus colegas, amigos e também a sua família, como vimos até agora. 

Então o que seria mais correto? Pararmos de beber completamente ou diminuirmos a quantidade de ingestão de bebida alcoólica? Existe uma piada muito viralizada nas redes sociais em que um humorista diz: “Olha, EU bebo apenas UM copo de cerveja, mas aí eu me torno uma outra pessoa. E essa pessoa BEBE PRA CARAMBA…”  – e isso é bem verdade quando se trata de beber. Afinal, são raras as pessoas que se dispõem a sentar com amigos para beber apenas uma garrafa de cerveja. E o problema é esse. Um estudo da OMS aponta que nosso fígado demora uma hora e meia para conseguir metabolizar somente 30 gramas de álcool. Portanto, não há quantidade mínima de álcool que se isente de riscos à saúde. Quando você bebe mais do que 30 gramas de álcool em um curto período, o restante do etanol em excesso vai direto para as artérias que fazem sua distribuição para todos os órgãos, destruindo células (principalmente as células nervosas que são os neurônios). Aliás, o álcool é uma droga que penetra em TODAS as células do seu corpo. E como o coração e o cérebro são órgãos sensíveis,  você corre riscos de sofrer um infarto agudo do miocárdio e um acidente vascular cerebral. Além disso, a perda de neurônios devido ao álcool está associada a uma grande lista de transtornos mentais, com sérios agravantes se o usuário já tinha algum tipo de transtorno antes da dependência alcoólica. Aproximadamente 50% dos pacientes com transtorno mentais graves desenvolvem problemas relativos ao consumo de álcool ou outras substâncias entorpecentes. Além dos riscos da própria intoxicação aguda, também há riscos de desenvolver síndrome de dependência, transtornos psicóticos induzidos pelo álcool, síndrome amnésica entre outros. O consumo do álcool aumenta drasticamente os transtornos de ansiedade e depressão, principalmente nas camadas sociais onde há baixa qualidade de vida.

Há ainda muito mais a ser dito sobre os malefícios do álcool. Afinal, nosso corpo é composto majoritariamente por água. Não fomos feitos para ingestão de álcool. Por isso que ninguém gosta do sabor do álcool, mas do efeito “relaxante” que ele provoca. É gostoso festejar com familiares e amigos com um copo de cerveja gelada na mão? Claro que é! Mas como tudo na vida, isso tem consequências. E para algumas pessoas essas consequências são catastróficas. As informações eu estou providenciando aqui, mas a escolha é somente sua.

Referências bibliográficas:

DIEHL A; CORDEIRO D; LARANJEIRA R [et al.]. Dependência química: prevenção, tratamento e políticas públicas. Porto Alegre: Artmed, 2011. ISBN 978-85-363-2503-3

Álcool e a Saúde dos Brasileiros: Panorama 2020 / Organizador: Arthur Guerra de Andrade. – 1. ed. – São Paulo: Centro de Informações sobre Saúde e Álcool- CISA, 2020.

https://www.gov.br/dnit/pt-br/assuntos/noticias/tenha-responsabilidade-no-transito-alcool-e-direcao-nao-combinam

Uso de álcool durante a pandemia de COVID-19 na América Latina e no Caribe. Organização Pan-Americana da Saúde 2020. Número de referência: OPAS/NMH/MH/Covid-19/20-0042

Vigitel Brasil 2019: vigilância de fatores de risco e proteção para doenças crônicas por inquérito telefônico: estimativas sobre frequência e distribuição sociodemográfica de fatores de risco e proteção para doenças crônicas nas capitais dos 26 estados brasileiros e no Distrito Federal em 2019 [recurso eletrônico] / Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde, Departamento de Análise em Saúde e Vigilância de Doenças não Transmissíveis. – Brasília: Ministério da Saúde, 2020.

Laranjeira R, Duailibi S, Pinsky I. Álcool e violência: a psiquiatria e a saúde pública. Editorial Rev Bras Psiquiatr. 2005;27(3):176-7.

https://iris.paho.org/bitstream/handle/10665.2/52936/OPASNMHMHCOVID-19200042_por.pdf?sequence=5&isAllowed=y

SANTOS M; CAMPOS M; FORTES S. Relação do uso de álcool e transtornos mentais comuns com a qualidade de vida de pacientes na atenção primária em saúde. Ciência & Saúde Coletiva, 24(3):1051-1063, 2019 DOI: 10.1590/1413-81232018243.01232017

ALVES H; KESSLER F; RATTO L. Comorbidade: uso de álcool e outros transtornos psiquiátricos. Rev Bras Psiquiatr 2004;26(Supl I):51-53.

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O vigilante de pedra https://drlivioandrade.com/o-vigilante-de-pedra/ https://drlivioandrade.com/o-vigilante-de-pedra/#respond Mon, 11 Jan 2021 04:40:13 +0000 https://drlivioandrade.com/?p=1399 O vigilante de pedra Leia mais »

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O vigilante de pedra

Maurício subitamente abre os olhos. Confere o rádio-relógio: duas horas da manhã. Não poderia dormir tão mal novamente pelo quinto dia seguido. No trabalho fica sonolento e em casa o sono some. Mas essa noite ele precisa dormir bem, pois amanhã será um grande dia. Finalmente o Dr. Francisco irá recebê-lo. Como é um bom cliente em potencial, sua apresentação deve ser a melhor já feita, pois está há alguns meses sem bater a meta. Sempre sonhou em ascender na empresa, mas com a economia tão precária e as contas tão altas, não se trata mais de ganhar uma promoção ou um aumento de salário, e sim, de pelo menos não perder o emprego.

Ele enterra a cara no travesseiro. PRECISO DORMIR! Cerra os punhos, esmurra o colchão quase acordando sua esposa grávida de sete meses. Ela murmura algo e ele mal respira, até ela se aquietar num sono profundo. Ele suspira invejoso. O silêncio volta a ecoar o quarto.

Sua cabeça latejava. Tornara-se a própria noite em alerta, as lâmpadas da área externa dos apartamentos que se acendem por qualquer movimento, a estátua na praça do condomínio que vigia obsessivamente. Sim, sua insônia era tão pesada quanto uma pedra. Se contorce na cama angustiado, pois não se lembra como se faz para dormir. Antigamente dormia até mesmo de pé. Como é possível desaprender a fazer algo tão natural e tão espontâneo?

Abre os olhos novamente e olha para o rádio-relógio que marca 04h30m: “Meu Deus, o que eu preciso fazer pra dormir?”

– – –

Trabalho, estudo, relacionamentos problemáticos, ambição, falta de dinheiro, etc. Os problemas que costumam afugentar nosso sono são inúmeros e o mau hábito de não dormir, ou dormir pouco, se tornou tão recorrente que passamos a encará-lo como um fenômeno natural de pouca ou nenhuma importância. Algo que não precisa ser levado a sério. Ledo engano.

Cientistas do mundo inteiro afirmam que dormir melhora a atividade cerebral e fortalece o sistema imunológico. A propaganda é menor, mas dormir é tão imprescindível quanto se exercitar. Entretanto, as extraordinárias mudanças das últimas décadas, cada vez mais rápidas em nosso estilo de vida, nos fizeram correr desesperadamente atrás de garantirmos o nosso desenvolvimento pessoal e profissional para mantermos nossa competitividade. Com isso, passamos a dormir cada vez menos. Isso não é nada bom para a nossa saúde.

O mundo tem despertado para estudar mais sobre esse transtorno. A Associação Mundial de Medicina do Sono (WASM) garante que mais de 45 por cento da população mundial sofre de insônia. No Brasil, a Associação Brasileira de Sono (ABS) revela que mais de 36% dos brasileiros padecem desse mal. Não se trata apenas de conseguir adormecer, mas também de manter o sono com a duração e o peso necessários. A má qualidade do sono, ou sua total abstinência, traz desorientações significativas:

no raciocínio lógico – lentidão, perda de concentração, erros em tarefas de baixa complexidade, dificuldade em se comunicar e tomar decisões, etc;

no desempenho ocupacional – atraso, falta, acidentes no trabalho ou no trânsito, desmotivação, ineficiência, desinteresse pela carreira, etc;

e no convívio social – reclusão, hostilidade, intolerância, má interação com colegas, família e amigos, etc.

Infelizmente os agravos na saúde não param por aí. Os sintomas causados por transtornos do sono causam déficits expressivos no funcionamento físico do insone, como aumento de ansiedade, perda de memória, enxaqueca, aumento de peso, maior propensão à irritação, desatenção, indisposição, cansaço, fraqueza, disfunção sexual, sonolência excessiva diurna, estresse, depressão, entre outros.

Existem também outros problemas de saúde em geral associados com a insônia. Há fortes indícios de que a privação do sono aumenta consideravelmente o perigo de contrair doenças neurológicas, do trato urinário, do aparelho respiratório, gastrointestinais, diabetes mellitus, câncer, hipertensão arterial sistêmica e cardiovasculares.

Se você já está há algum tempo sem conseguir dormir da maneira adequada, é muito importante que você não se desespere, pois isso apenas piora a ansiedade. Saiba que a insônia é tratável e tem cura. Consulte o seu psiquiatra o mais rápido possível. Além disso, repensar alguns hábitos pode ajudar muito:

– Faça exercícios durante o dia, justamente para melhorar a pressão sanguínea e controlar o peso. O cansaço consequente de atividades físicas é um excelente relaxante natural e ótimo para que você sinta o início da sonolência na hora de dormir.

– Evite tomar café, ou qualquer outra bebida energética durante a noite. 

– Não coma alimentos pesados na hora de dormir. Nada de muita massa, açúcar ou gordura. Prefira alimentos leves como frutas, pois são muito mais fáceis de digerir.

– Procure dormir em um ambiente confortável e escuro. De preferência, na sua própria cama. Habitue-se a ter um horário para dormir e para se levantar. Nesse caso a disciplina conta muito.

– Não leve o celular para a cama. Você deve ensinar ao seu cérebro que a cama é o lugar onde você DORME e nada mais do que isso. Além disso, a luz artificial do celular é um estimulante altamente propício a te manter bem acordado.

Como podemos constatar, o ato de dormir é muito mais importante do que muita gente imagina e deve ser levado a sério. Por isso, acorde pra vida e VÁ DORMIR!

– – –

Seis horas da manhã. Após uma noite inteira de luta, Maurício capitula. Levantou-se antes do despertador. Suas olheiras estão maiores que os olhos, mas pelo menos hoje não chega atrasado. Toma um banho gelado pra despertar, mas cada peça de roupa é vestida com muito sacrifício. Quando termina o nó da gravata, sua mulher acorda e lhe lança um olhar ainda sonolento, mas curioso: 

— Maurício?!…

— Pode dormir mais um pouco, amor. Hoje resolvi sair mais cedo e…

— Maurício, você tá louco? Hoje é DOMINGO.

Maurício continua parado, olhando para a esposa que volta a se deitar rindo muito. Ele tira as roupas o mais rápido que consegue e se joga na cama. “E agora?! Quanto tempo será que vou demorar pra dorm…”

 

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Referências bibliográficas:

 

Müller M, Guimarães S. Impacto dos transtornos do sono sobre o funcionamento diário e a qualidade de vida. Estudos de Psicologia I Campinas I 24(4) I 519-528 I outubro – dezembro 2007.

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Souza J, Reimão R. Epidemiologia da Insônia. Psicologia em Estudo, Maringá, v. 9, n. 1, p. 3-7, 2004.

Drager LF, Lorenzi-Filho G, Cintra FD, Pedrosa RP, Bittencourt LR, Poyares D. et. al. 1º Posicionamento Brasileiro sobre o Impacto dos Distúrbios de Sono nas Doenças Cardiovasculares da Sociedade Brasileira de Cardiologia. Arq Bras Cardiol. 2018; 111(2):290-341.

Oliveira B, Yassuda M, Cupertino A, Neri A. Relações entre padrão do sono, saúde percebida e variáveis socioeconômicas em uma amostra de idosos residentes na comunidade – Estudo PENSA. FCM UNICAMP. Ciência & Saúde Coletiva, 15(3):851-860, 2010.

Muller MR, Guimarães SS. Impactos dos transtornos do sono sobre o funcionamento diário e a qualidade de vida. Est Psicol, Campinas. 2007;24(4):519-28. doi: http://dx.doi. org/10.1590/S0103 – 166X2007000 400011.

Kuppermann, M., Lubeck, D. P. & Mazonson, P. D. (1995). Sleep problems and their correlates in a working population. J Gen Intern Med 10, 25-32.

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Phillips, B., Cook, Y., Schimitt, F. & Berry, D. (1989). Sleep apnea: prevalence of risk factors in a general population. South Med J 82 (9), 1090-2.

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Festa em Família https://drlivioandrade.com/festa-em-familia/ https://drlivioandrade.com/festa-em-familia/#respond Mon, 28 Dec 2020 06:50:33 +0000 https://drlivioandrade.com/?p=1394 Festa em Família Leia mais »

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Festa em família

O portão se encontrava destrancado, mas Rodrigo permaneceu na calçada. A vizinhança estava toda enfeitada para o Natal e ele se forçou a admirar a rua. O barulho das festas e do som confuso de várias músicas natalinas distintas o fizeram querer entrar novamente no carro e ir embora, o que é contrastante, pois Rodrigo ama festas e música natalina. Permaneceu onde estava. Vultos no primeiro e segundo pavimento do triplex indicam que a festa havia atraído mais parentes do que ele desejava ver. A vontade de ir embora aumentou.

Mas ele não poderia ir embora. Seus pais o fizeram prometer que ele participaria da festa com a família e ele não queria decepcioná-los. “Ah, vamos logo com isso”– pensou. Empurrou o portão lentamente e com muito mais força do que precisava. Seus passos estavam pesadíssimos, como se houvesse grandes bolas de ferro em seus pés. Quando chegou perto da porta de entrada, a mesma se abriu diante dele. Seu estômago embrulhou ao ver um homem tão alto quanto ele sair e fechar a porta por trás de si. Atrás dos óculos, os olhos desse homem se fixaram tensamente em Rodrigo. Condoído de repulsa, Rodrigo devolveu o olhar gelado.

O fim de ano é uma época para reflexão. É a oportunidade ideal para  averiguar se todas as metas e objetivos traçados no ano passado foram conquistados. Fez um bom investimento ou só guardou dinheiro? Foi promovido ou só preservou o emprego? Fez novas amizades ou pelo menos não brigou com ninguém? Afinal, 2020 foi um ano difícil e… Diferente.

Fomos surpreendidos por circunstâncias incomuns e assustadoras, e só seremos capazes de mensurar o tamanho do abalo em nosso emocional daqui a alguns anos. Mas, sim, já podemos dizer que nossa ansiedade e estresse aumentaram significativamente. Nossas opiniões se dividiram e nossas falas se excederam.

Mesmo envoltos em situações inesperadas, precisamos manter a calma. Discussões que fogem do controle podem gerar impactos profundos nas nossas relações. Portanto, amadurecer nossas ideias, assim como nosso comportamento, é a chave para o nosso bem-estar e evolução pessoal, dois atributos que são desenvolvidos muito melhor junto de parentes e amigos. Com uma convivência pacífica e harmoniosa, cresce dentro de todos um sentimento de alegria e segurança. Tudo o que fazemos, quando estamos em família, fazemos melhor.

Mas o que fazer para não deixarmos que discussões vazias prejudiquem a harmonia da convivência familiar e fraterna?

– Se uma pessoa pensa diferente de você, não significa que ela te odeia. Saber ouvir e respeitar uma opinião é sinal de amadurecimento pessoal e até mesmo fortalece os laços quando esse respeito é recíproco.

– Não se esqueçam que a vida é curta. Fuja de fofocas, intrigas e discussões tolas. Aproveite e viva intensamente cada momento com entes queridos, pois, no final, isso é tudo o que importa.

– Raiva e mágoa são sentimentos que prejudicam fisicamente o seu corpo, pois são uma forma triste de passar a vida. Sua delonga pode causar fortes dores de cabeça, gastrite, artrite, taquicardia e até mesmo hipertensão. Guardar rancor de alguém é como tomar veneno e esperar que a outra pessoa morra.

– Existem pesquisas altamente relevantes ao redor do mundo sobre os benefícios do perdão. O benefício de relevar ofensas não se estende apenas para a saúde física, mas principalmente mental. Pesquisadores de diversas nacionalidades garantem que quem não perdoa tem muito mais propensão ao aumento do estresse, acarretando num aumento expressivo de sintomas de ansiedade, depressão e até mesmo neurose. 

– Perdoar não significa esquecer. Se você tem bons motivos pra acreditar que a pessoa que te feriu não mudou e há uma alta probabilidade de que ela possa te ofender novamente (a relação é uma via de mão dupla, quando você não perdoa você não libera a pessoa para ser quem é, você fica preso aquele que te ofendeu), eu não recomendo uma reconciliação. Não há necessidade de um novo embate, principalmente se você ainda não está emocionalmente maduro pra isso. Mas perdoe! Procure pensar nas limitações dessa pessoa e nos motivos que a fazem agir de tal forma. Não existe forma mais fácil de limpar seu coração de tanta mágoa.

– agradecer pode ser muito mais benéfico do que você imagina. O diário da gratidão é uma técnica cientificamente comprovada e consiste em escrever três motivos para agradecer. Leva cerca de um minuto e, bem, você vai me agradecer por isso.

Que você possa celebrar este Natal com o seu coração leve e, se possível, junto de todos os seus familiares!

Sem saber o que fazer, Rodrigo olha para o chão. O homem de óculos quebra o gelo: “Primão, como vão as coisas?… Eu estava ali em cima e te vi entrando…” – Rodrigo consegue apenas dizer algo: “Carlos…” – Mas é interrompido: “Você tá bravo, ok! Se eu estivesse no teu lugar, também não falaria comigo. Eu errei naquele dia, mas pelo amor de Deus, eu estava BÊBADO. Se não tivessem filmado e me mostrado no dia seguinte eu não teria acreditado, pois não me lembrava de NADA.” 

Encabulado, Rodrigo temeu que mais alguém pudesse ouvir aquela conversa. Carlos continuou: “É muito fácil aprontar e depois pedir desculpas, mas mesmo assim eu vim aqui pedir perdão. Se você não quiser mais olhar na minha cara…” – dessa vez Rodrigo interrompeu: “Primo, do jeito que você é feio, NINGUÉM quer olhar na tua cara.”

Carlos fica confuso por um segundo, mas logo ambos começam a gargalhar, e se abraçam fraternalmente. Se encaminham para a festa, mas antes de entrar, Rodrigo diz: “Bora aproveitar hoje, mas sem bebidas pra você, viu?! Sabe como é… Uma vez cachaceiro…” – Carlos o empurra para dentro dos arbustos e entra tranquilamente em casa. Rodrigo se levanta cuspindo folhas e grama, gritando: “VOCÊ ME PAGA, SEU…!!!” – e corre pra dentro da casa.

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Referências bibliográficas:

Hourigan K.  Forgiving the Unforgivable: An Exploration of Contradictions between Forgiveness Related Feeling Rules and Lived Experience of Forgiveness of Extreme Harm. California State University, Los Angeles Humanity & Society · September 2018. DOI: 10.1177/0160597618801049. sagepub.com/journals-permissions

Exline J, Bushman B, Baumeister R, Campbell W, Finkel E. Too Proud to Let Go: Narcissistic Entitlement as a Barrier to Forgiveness. Journal of Personality and Social Psychology, 2004, Vol. 87, No. 6, 894 –912 Copyright 2004 by the American Psychological Association 0022-3514/04/$12.00 DOI: 10.1037/0022-3514.87.6.894

Kristeva J. Hatred and forgiveness. Translated by Jeanine Herman Columbia University Press, New York, 2010, 341 pp., $29.50. ISBN-10: 0231143257. Psychoanalysis, Culture & Society (2014) 19, 222–224. doi:10.1057/pcs.2014.17

Dauber L. Perdão na saúde mental: ferramenta para a vida. Congresso Internacional da Faculdade EST, 3., 2016, São Leopoldo. Anais do Congresso Internacional da Faculdades EST. São Leopoldo: EST, v. 3, 2016. | p.030-036

Cleare S, Gumley A, O’Connor RC. Self-compassion, Self- forgiveness, Suicidal ideation and Self-harm: a Systematic review. Clin Psychol Psychother. 2019 May 2. doi: 10.1002/cpp.2372. [Epub ahead of print]

Li H, Lu J. The Neural Association between Tendency to Forgive and Spontaneous Brain Activity in Healthy Young Adults. Front Hum Neurosci. 2017 Nov 20;11:561. doi: 10.3389/fnhum.2017.00561. eCollection 2017.

Exline, J.J. & Baumeister, R. (2000). Expressing forgiveness and repentance: Benefits and barriers. In M.E. McCullough, K.I. Pargament & C.E. Thoresen (Eds), Forgiveness: Theory, research and practice (p. 133 – 155). New York: Guilford.

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A impenetrável caixa de papelão https://drlivioandrade.com/a-impenetravel-caixa-de-papelao/ https://drlivioandrade.com/a-impenetravel-caixa-de-papelao/#respond Wed, 16 Dec 2020 18:10:25 +0000 https://drlivioandrade.com/?p=1386 A impenetrável caixa de papelão Leia mais »

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A impenetrável caixa de papelão

Após um dia cansativo, Augusto se encontrava no fundo da sala de aula lutando bravamente para não baixar a cabeça na mesa, pois, se o fizesse, dormiria. Trabalhar de dia e estudar à noite é uma vida difícil.  Resolveu concentrar toda a sua atenção em alguns colegas que tentavam dissuadir a professora de lhes cobrar a apresentação do trabalho hoje. Ele estava nervoso, pois teve pouco tempo para fazer uma maquete. Não sabia se estava boa o suficiente. Além disso, sempre sentia calafrios só de imaginar ter de falar à frente de todos. Apavorado, observou seus colegas voltarem às suas mesas contrariados. Um deles ainda quis protestar, mas a professora se manteve firme: “Pessoal, vocês estão no primeiro ano do ensino médio. Já passou da hora de terem mais responsabilidade.” E para piorar, após consultar uma lista, a professora olha diretamente para Augusto e ordena: “Augusto, venha apresentar o trabalho!”

Ao ouvir isso, Augusto sentiu um paralisante arrepio. Pensou na possibilidade de não ir adiante, mas a professora o olhava impacientemente. Mais uma vez lamentou a primeira letra de seu nome. Levantou-se com dificuldade. A cadeira ainda tentou abraçá-lo e implorou pra que ele não fosse, mas o olhar da professora era mais convincente. Pegou a maquete que estava envolta em uma caixa de papelão e caminhou para a frente quase se escondendo nela. Sentiu nos ossos os olhares de todos os seus colegas cujos nomes mal sabia, pois uma vergonha indescritível o possuía sempre que tentavam conversar com ele. Ao chegar na frente de todos, olhou por cima da cabeça de cada um deles. “Pode começar!” – disse a professora. Augusto estava muito nervoso, suas mãos suavam e ele começou a tremer. Ainda estava sem coragem de revelar a maquete. Quando abriu a boca pra falar, foi interrompido pela risada do garoto à sua frente. E mais uma garota riu. E mais outra. Logo, todos na sala estavam apontando para ele e rindo, até mesmo a professora. Então ele compreendeu. E sentiu o coração acelerar. Começou a sentir tontura e falta de ar, pois antes que pudesse olhar para baixo, descobriu que estava completamente nu. Tentou se esconder atrás da caixa, tentou até mesmo ENTRAR na caixa, mas sentiu a alma congelar e caiu para trás ao som dos risos. E começou a girar e a girar e a girar…

É muito comum confundirem a ansiedade social com excesso de timidez. Uma pessoa tímida apenas tem um leve receio de ser rejeitada, mas com poucos sintomas, ou apenas passageiros. Já uma pessoa que sofre de fobia social possui um medo extremo, não apenas de ser rejeitado, mas de vivenciar situações altamente vexatórias diante de um grupo de pessoas. É por isso que ele costuma construir uma personalidade perfeccionista, criando padrões e estilos elevadíssimos muito difíceis de acompanhar. Dessa forma, ele acredita que estará protegido de julgamentos críticos destrutivos, os quais ele tanto teme. Além disso, o sociofóbico sente na pele, e no corpo, sintomas que vão desde a sudorese até a aceleração cardíaca.

Em seu escasso círculo social, é comum rotular esse paciente como egocêntrico e arrogante, pois não entendem que, na verdade, estão diante de uma pessoa com problemas emocionais.

Pessoas com esse tipo de transtorno tem dificuldade em socializar. Tanto no trabalho quanto na escola, a pessoa prefere ficar sozinha. Por isso há sempre um desconforto imenso ao tentar fazer novas amizades, participar de uma entrevista de emprego ou iniciar um namoro. Entretanto, ele consegue se encaixar bem em situações formais de trabalho onde a intimidade é dispensável e inapropriada, pois se aproveita disso para evitar a exposição e se manter seguro. Mas ao tentar permanecer dentro dessa bolha o máximo de tempo possível, o paciente se afunda cada vez mais no isolamento social e tem cada vez menos força para tentar reverter esse quadro.

Mas com acompanhamento e uma boa dose de coragem, é possível não apenas conviver bem com o transtorno, mas subjugá-lo de modo que ele se torne quase imperceptível ou até mesmo desapareça de vez:

– saia da zona de conforto! Sim, é possível que você fique bem após se aproximar de alguém para conversar. Faça um esforço!

– se você receber um convite para sair com amigos, VÁ! Sim, você poderá sentir medo, preguiça e até mesmo um pouco de mal-estar, mas confirme presença e depois junte todas as suas forças para ir. Você passará por bons momentos sem se dar conta do bem enorme que estará fazendo para si mesmo.

– não tenha medo de falar ao telefone. Elogie quem estiver do outro lado da linha! Expresse uma opinião pessoal! Aproveite esse momento para treinar a sua comunicação com outra pessoa.

– quando conversar pessoalmente com alguém, SEMPRE olhe nos OLHOS dessa pessoa.

– se houver alguma situação de pânico ou algum sintoma corporal fora do comum, como taquicardia, tremedeira, entre outros, procure um psiquiatra!

“AUGUSTO!”

Augusto balbuciava enquanto se abraçava à sua mesa no fundo da sala. Ouviu mais uma vez um forte chamado da professora: “AUGUSTO!” – ele levanta a cabeça. Estava babando, então limpa a boca rapidamente. A professora lhe pergunta: “Você está bem?” – lentamente Augusto se dá conta de que dormiu e teve um pesadelo sobre hoje ser o dia da apresentação do trabalho. Sequer havia feito uma maquete. Não havia ninguém fazendo apresentações e ele estava totalmente vestido. Suspirou, completamente aliviado, e fez que “sim” com a cabeça para a professora. Ela respondeu: “Ótimo! Então vá apresentar o trabalho!”

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Além da fronteira https://drlivioandrade.com/alem-da-fronteira/ https://drlivioandrade.com/alem-da-fronteira/#respond Tue, 08 Dec 2020 18:21:04 +0000 https://drlivioandrade.com/?p=1367 Além da fronteira Leia mais »

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Além da fronteira

A moça toca novamente o copo de cerveja gelada. Ele já esteve nesse bar outras vezes, mas nunca reparou como o ambiente era tão bonito. Tudo tão limpo, arrumado, brilhante… As pessoas que o frequentam são bem arrumadas e amáveis. Poderia ser amiga íntima de qualquer uma delas. Gostaria de ser. A vida é linda, plena e tudo faz sentido. Um súbito êxtase aguça involuntariamente ainda mais todos os seus sentidos, o que a deixou até preocupada. Quando ele chegar, não aja como no último encontro com aquele outro rapaz – pensou ela. Seja menos… animada. Menos alegre. Você é uma gata, inteligente, tem presença. Claro que todos aqui notaram. Se não fosse assim, um cara tão descolado como ele não teria topado esse encontro. Enquanto se aconselhava em pensamentos, olhou novamente o relógio. Tudo bem que é normal chegar atrasado, mas SETE minutos? Então teve a ideia de lhe mandar uma mensagem. Não obteve resposta. Deu um sorriso sem graça para outras pessoas na mesa ao lado, mas ninguém estava olhando. Resolveu ligar, mas o celular dele estava desligado.

O celular estava desligado.

Tomou de um gole a cerveja amarga. Levantou-se para pagar a conta. Era ÓBVIO que ele não apareceria. Desligou de propósito pra idiota aqui não ENCHER O SACO. É claro! Quem iria querer sair com uma imbecil dessas? Uma OTÁRIA que teve a ousadia de chamar um dos caras mais bonitos da faculdade pra sair depois de conhecê-lo pela primeira vez. Isso é o que você MERECE. Com certeza ele está com alguma namorada, rindo MUITO às suas custas. Ela tropeça em uma cadeira ao tentar sair e bate forte com a coxa em uma outra mesa. Desculpa. Um oceano de mal-estar lhe invadiu. Sente vontade de se cortar. Tentou andar mais rápido para escapar da vergonha e angústia, mas sem sucesso. A vida não vale a pena.

Você já sentiu ou conhece alguém em uma situação parecida com essa? Hoje falaremos sobre o borderline.

Borderline, ou transtorno de personalidade limítrofe, não é doença. É uma atitude, uma maneira. Um desvio de conduta do que consideramos normal. Uma predisposição para agir de forma totalmente apaixonada e impulsiva, deixando seu lado racional totalmente em segundo plano. Ou em algum lugar inferior.

Mas o que causa esse transtorno? São vários os motivos, e a maioria se inicia na fase adolescente, mas não são raros os casos na infância quando a criança não consegue aceitar a separação dos pais, muito menos situações de violência física e abuso sexual. Rejeição ou falta de amigos na escola. Morte de um ente querido na família. Alguém com predisposição para desenvolver uma personalidade limítrofe tem uma dificuldade acima do comum em lidar com frustração e isso forma uma barreira no amadurecimento de sua afetividade.

Os sintomas desse transtorno são notáveis principalmente pela instabilidade emocional. Um borderline pode te amar e te odiar no mesmo dia. Ele pode passar de um estado de euforia para a mais desolada depressão em tão pouco tempo que qualquer pessoa que conviva com ele não se cansa de se surpreender, não importa quantas vezes veja isso acontecer. Há também um medo real ou imaginário de ser abandonado. Por isso ele está constantemente brigando com pessoas de que gosta para que fiquem ao seu lado, na maioria das vezes com um ciúme incontrolável. Às vezes esse medo é tão grande que o paciente opta por abandonar primeiro, isolando-se de tudo e todos. Mas além de ser rara essa atitude, ela não se prolonga: o sentimento de vazio que eles sentem é absolutamente terrível, pois tudo o que sentem é bem maior do que qualquer outra pessoa que não tem esse transtorno. Por isso procuram preencher esse vazio desesperadamente com a companhia de outras pessoas. Confuso, não?! Bem-vindo ao universo do borderline.

Mas se esse transtorno é tão complexo, como fazer para resolver essa situação?

Bem, em primeiro lugar, precisamos ter em mente que a esmagadora maioria das pessoas que sofrem desse transtorno são pessoas muito inteligentes. Sua criatividade e capacidade de comunicação estão, às vezes, acima da média. Então é preciso entender que pessoas desse nível têm muita dificuldade em aceitar que outras pessoas lhes digam o que fazer, mesmo que essas pessoas sejam psiquiatras competentes e responsáveis com muitos anos de experiência. Então aqui vão algumas dicas:

– confie no seu psiquiatra! Ele sabe o que está fazendo e tentará de todas as formas diminuir os sintomas ao tamanho mínimo possível. E sim, ele quer o teu bem. Qual seria o motivo para não acreditar nisso?

– não pare o tratamento! Jamais! Em hipótese alguma.

– quando você estiver muito triste, achando que ninguém se importa com você, lembre-se: evite ao máximo ficar só. Procure estar perto de pessoas que você gosta e confia. Converse com essas pessoas, não apenas sobre o que você está sentindo, mas sobre o que você quiser.

– eu não sei se fui bem claro, então aqui vai novamente: NÃO PARE O TRATAMENTO!

Um rapaz alto entra apressadamente no bar, olhando para as mesas e para as paredes como se buscasse por algo ou por alguém. Vai até o balcão e mostra para o garçom seu celular conectado ao carregador:

 — A bateria morreu total, irmão. Pode carregar aí?

Em seguida, volta os olhos para o interior do bar, procurando pela moça em vão.

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Brilho nos olhos https://drlivioandrade.com/brilho-nos-olhos/ https://drlivioandrade.com/brilho-nos-olhos/#respond Thu, 19 Nov 2020 19:39:18 +0000 https://drlivioandrade.com/?p=1352 Brilho nos olhos Leia mais »

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Brilho nos olhos

O homem nasce totalmente dependente. Vive e morre em comunidade. Desde os primórdios o apoio em grupo era essencial para guerrear, caçar, habitar, comer e contar histórias. E a convivência oferecia um crescimento saudável, diversão e proteção. Mas desde que passamos a não depender mais somente do fogo para nos iluminar, o homem tem procurado sua luz própria de forma cada vez mais individual. A lâmpada elétrica incandesceu as noites e diminuiu os tropeços. E os nossos passos se tornaram velozes e correram em uma corrente de tamanha energia que alternou para sempre a idade das trevas ao caminho do conhecimento. E esse caminho nos trouxe à era da informação.

Eu sei, no meio de tanta ignorância, parece ironia dizer que estamos na era da informação. Mas estamos. E a informação se dá de forma fácil, robusta e imposta. Nos informamos até quando não queremos. Sua fartura é tanta que a ciência não tem sido tanto uma ferramenta de aprendizagem, mas de entretenimento. A luz do conhecimento se transmutou no brilho das TVs, videogames, computadores e celulares. Esses aparelhos seduzem o homem com a mesma efetividade de uma lâmpada em uma mariposa, e o resultado desse choque está na obesidade mental, egocentrismo e solidão.

Quem diria que poderíamos encontrar a salvação, mesmo que por poucos minutos, em inesperados apagões? Sim, pois quando a eletricidade acaba e as telas perdem sua luz, procuramos desesperadamente por brilho em outros olhos. É quando os laços da interação humana se apertam e nos sentimos satisfeitos, equilibrados, e as coisas parecem estar do jeito que deveriam ser. Tão boas e plenas que nenhum pensamento questiona: “poderia isso um dia acabar?”

O lockdown

O mundo moderno enfrentou recentemente diversos tipos de vírus, mas nunca sofreu um impacto emocional tão grande quanto o deste ano. Maior do que a pandemia tem sido a onda de depressão, ansiedade e síndromes que continua crescendo assustadoramente. Claro, o coronavírus é um perigo por ser um vírus novo. Devemos cuidar de todos, principalmente dos mais velhos, mas se quisermos entender o atual fenômeno psíquico, precisamos lembrar que já enfrentamos vírus mais fortes. Pessoas sempre morreram por diversas doenças e a civilização nunca entrou em desespero por isso. A dengue até hoje mata muito mais do que qualquer outro vírus e os sobreviventes sempre seguiram com suas vidas. Então a que se deve tanta comoção atual?

Ao confinamento. Estivemos afastados de nossos amigos, colegas de trabalho e até mesmo de parentes (mesmo estando na mesma casa), nos concentrando em telas iluminadas que nos preenchem de polêmica e medo.

Há poucas semanas, uma senhora chorava em meu consultório com dor de cabeça. Não dormia direito havia cerca de dois meses. Entre várias perguntas, consegui descobrir que isso começara desde o momento em que ela voltou a assistir o noticiário. “Doutor, nós vamos MORRER. Não vai sobrar NINGUÉM. Eu vejo hospital lotado todos os dias. Tem paciente até nos corredores…” – Sem dizer nada, eu abri meu notebook e procurei por algumas notícias. Escolhi logo uma reportagem com uma foto enorme do interior de um hospital repleto de pacientes e lhe mostrei: “É esse tipo de notícia que a senhora tem visto?” – Ela arregalou os olhos: “É isso mesmo! Ai meu Deus, onde é que nós vamos parar?” – Então perguntei novamente: “Sabe de quando é essa notícia? – ao me olhar sem saber o que dizer, eu mesmo respondi: “2009”. Mostrei uma outra reportagem sobre hospitais cheios: “Essa é de 2010… Essa é de 2013… E essa é de 2017…” – Notei que subitamente sua tristeza virou curiosidade, ao que continuei falando. “Desde que eu me entendo por gente, eu sei de três coisas: hospitais lotam, políticos mentem e a imprensa sensacionaliza.”

Tanto em minhas consultas presenciais quanto online eu tenho recebido muitas pessoas deprimidas devido ao lockdown. Obviamente, cada caso trato de forma personalizada, mas há vários pareceres que posso estender a todos:

O ócio é seu inimigoaproveite o tempo para fazer exercícios, aprender uma língua diferente, etc. Essa é uma boa oportunidade pra colocar a leitura em dia. “Mente vazia é oficina do diabo.”

Você não virou vampironão precisa se esconder do sol com portas e janelas trancadas. Pelo contrário, a vitamina D fortalece o sistema imunológico, assim como manter a casa arejada.

O amor pode miar ou latir. Brinque mais com seus animais de estimação, ao mesmo tempo em que ensina suas crianças a amá-las e respeitá-las. Eles são uma fonte inesgotável de alegria.

Enfim, se cuidem! Mas… Acalmem-se! O pânico pode levar desnecessariamente a uma tragédia. Além da higiene diária, nessa época em que estamos vivendo você precisa usar máscara, mas com cuidado para não respirar por muito tempo a própria ansiedade porque ela te sufoca. Precisa também de álcool em gel, mas não esqueça que você pode tocar o outro de várias formas além da física. E tão importante quanto: pare de olhar o tempo todo para esses aparelhos reluzentes e preste mais atenção nos seus amigos e na sua família! Sua saúde mental agradece.

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Postergando o psiquiatra https://drlivioandrade.com/postergando-psiquiatra/ https://drlivioandrade.com/postergando-psiquiatra/#respond Tue, 10 Nov 2020 19:48:56 +0000 https://drlivioandrade.com/?p=1344 Postergando o psiquiatra Leia mais »

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Postergando o psiquiatra

Imagine que você fez um corte de cinco centímetros na perna. Você apenas limpa o sangue, mas está ocupado e não dá mais nenhuma atenção ao ferimento. Depois de um tempo, começa a sentir as dores da inflamação, mas ainda não toma nenhuma atitude. Então o ferimento começa a infeccionar. Acho que todos sabemos que quando não se trata adequadamente uma infecção, a ferida começa a inflamar.

Pois no sofrimento psíquico as feridas que se abrem não são visíveis aos olhos, mas mesmo assim latejam, doem e quando não cuidadas também “inflamam” a ponto de algumas vezes incapacitar completamente.

A demora em procurar ajuda agrava a doença

O principal motivo da demora ao procurar um psiquiatra ainda é o medo exagerado sobre o que pode acontecer com a mente e com a imagem perante à sociedade.

Além da obtenção do diagnóstico e do tratamento, uma resolução prática da primeira consulta psiquiátrica consiste na quebra de diversos tipos de mitos e medos. Contudo, o principal problema está justamente na lacuna temporal entre o início da doença e a busca por ajuda. A primeira visita ao psiquiatra serve justamente para fazer o paciente entender a importância de admitir que está doente e fazer todo o tratamento necessário sem qualquer tipo de acanhamento. Mas enquanto ele não toma a atitude de ir ao psiquiatra, não há primeira visita. É de se esperar que o paciente tenha escrúpulos de procurar um psiquiatra baseado em um constrangimento totalmente irreal e absurdo, como o medo de ser visto como um fraco, um inepto, ou até mesmo um louco (um dos medos mais comuns). Enquanto isso, a doença vai se agravando e dificultando o tratamento, gerando “cicatrizes emocionais” de forma tão profunda que dificilmente irá sarar.

O paciente que mesmo sentindo a doença piorar ainda continua sem procurar ajuda psiquiátrica precisa se concentrar nos motivos que levantam essa barreira. E como vivemos em um mundo egocêntrico, que valoriza tanto a imagem pessoal a ponto de considerá-la mais um recurso patrimonial do que humano, esse exacerbado empecilho pode estar em um dos mais recônditos vãos em sua personalidade, onde cautelosamente uma de suas características tenta se libertar de seus grilhões: a arrogância.

É ela que te faz valorizar o orgulho acima do amor próprio e acima do amor aos familiares que se importam verdadeiramente contigo e querem te ver bem. É ela quem ilude ao te fazer sentir que está sendo cuidadosamente observado por todos os que o cercam socialmente, e que te cega ao não te deixar ter a mínima noção de que todas essas pessoas estão muito mais preocupadas com seus próprios problemas do que com a tua vida e, na verdade, não têm nem tempo de procurar saber se você está indo ao psiquiatra, ou ao cardiologista ou ao dentista. Vale a pena refletir: será que compensa tamanho estrago?

Enquanto você não se decide, a demora prolonga o sofrimento e faz com que a doença se agrave, dificultando um tratamento que poderia ser muito mais fácil se a primeira visita tivesse ocorrido logo no início.

Pare de se preocupar com a opinião alheia e procure um psiquiatra o mais rápido possível!

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Lidando com a morte de um ente querido https://drlivioandrade.com/lidando-com-morte-ente-querido/ https://drlivioandrade.com/lidando-com-morte-ente-querido/#respond Mon, 02 Nov 2020 19:32:00 +0000 https://drlivioandrade.com/?p=1337 Lidando com a morte de um ente querido Leia mais »

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A lógica da fatalidade

A única certeza da vida é a morte. Mais socialista do que qualquer pessoa ou ideia, ela espera a todos igualmente, sem nenhuma espécie de pré-conceito.
É comum, principalmente entre pessoas maduras e sensatas, entender e aceitar a morte com naturalidade. Alguns podem achar que conhecerão e viverão eternamente em uma nova dimensão, outros acham que será uma inconsciente escuridão infinita. Em qualquer caso, pensar na própria morte raramente leva à pessoa algum tipo de angústia ou trauma. Entretanto, esse assunto pode se tornar muito mais complicado quando se trata da morte de um ente querido.

Lidando com a frustração da perda

Certa vez eu estava em uma pequena fila do caixa de uma padaria. Não muito distante uma criança pediu um doce para a mãe. Embora ela tenha sido discreta, eu consegui ouvi-la dizendo não poder comprar porque estava sem dinheiro. Já me preparei pra uma situação desconfortável: a de uma criança começar a berrar, espernear, deitar no chão e não parar mais enquanto não consegue o que quer. Mas ao invés disso ela simplesmente baixou a cabeça, triste. Surpreendido e com o coração partido, eu pedi licença e comprei o doce.

Quando uma pessoa querida morre, o sentimento decorrente é comum a todos: o de perda, tristeza. Sabemos que qualquer sentimento que seja não dura pra sempre, mas o problema é que em situações como essa não temos que lidar apenas com sentimentos, mas também com reações, que podem ser as mais variadas, desde choro intermitente até ao suicídio. Entenda que o tipo de resposta que você dá a um problema depende da sua capacidade de lidar com frustrações. Por exemplo: se você perder a casa própria, seja por hipoteca ou incêndio, pode se entristecer e se acomodar a viver de aluguel. Por outro lado, pode trabalhar bastante, estudar os melhores financiamentos e não descansar até comprar outra. Mas quando morre alguém próximo, não importa o que você faça, nem o tamanho da tua dor, ele simplesmente não vai voltar.

É nesse momento que vemos muitos “adultos” se comportando como crianças. Berram, esperneiam e guardam rancor sem saber necessariamente de quem. Não é de se admirar quando direcionam o rancor para a pessoa que faleceu. Então se isolam do restante da família, procuram refugiar a mente em qualquer outra coisa que não seja o luto, como bebida, drogas, etc.

Alguém que se encontrava nessas circunstâncias me perguntou: “Então você quer que eu faça o quê?

Ao que eu respondi: “Nada.

Esse tipo de resposta parece ser um contrassenso, mas às vezes é importante apenas estar ali. “Não quero que você faça nada. Absorva esse momento. SINTA essa dor. Não importa o quanto você fuja, ela sempre estará lá. Ela agora faz parte de você, e você não pode fugir de você mesmo pra sempre. Quando você estiver no controle da casa, ela eventualmente vai se cansar e ir embora, mas enquanto você estiver ausente, é ela quem vai dominar.

E então?! Como VOCÊ, leitor, se comporta diante disso? Adoecendo e preocupando também a sua família, sem se importar que ela também esteja precisando da sua ajuda? Ou aceitando um fato e agradecendo pela vida de quem te fez tão bem e agora está descansando em paz?

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Tratamento psicofarmacológico https://drlivioandrade.com/tratamento-psicofarmacologico/ https://drlivioandrade.com/tratamento-psicofarmacologico/#respond Tue, 27 Oct 2020 17:46:39 +0000 https://drlivioandrade.com/?p=1330 Tratamento psicofarmacológico Leia mais »

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Tratamento psicofarmacológico

Durante a minha carreira como psiquiatra eu já ouvi muitas inverdades a respeito de psicotrópicos. Algumas me fizeram imaginar como foi que as pessoas chegaram à ideias tão absurdas. Mas o mito mais recorrente de todos remete à tão temida dependência desse tipo de medicamento, principalmente no que se refere a ansiolíticos.

Remédios para tratamento psiquiátrico (psicofarmacológicos) podem viciar?

Antes de respondermos a essa pergunta, precisamos responder a uma outra muito mais essencial: a pessoa em questão, a que está disposta a tomar um psicotrópico, está realmente precisando desse tipo de remédio? Ou seja, ela está mesmo doente? Se a resposta for “sim”, então ela precisa procurar um psiquiatra. Entenda que tudo o que você fizer de forma descontrolada causará consequências ruins para o organismo, e no caso de psicofármacos é ainda pior, porque o simples fato de se medicar sem supervisão médica, seja em grande ou pouca quantidade, pode destruir o equilíbrio da sua bioquímica. Pode até mesmo alterar o seu metabolismo.

Voltando para a pergunta anterior, a resposta é “sim”. Psicofármacos usados sem a recomendação e supervisão de um psiquiatra podem causar dependência e até mesmo outros tipos de problema. Mas o motivo de tanta preocupação sobre esse assunto é mesmo esse? Levando em conta que o remédio não vai pular sozinho na sua boca e obrigá-lo a ingerir, qual o motivo de tanto medo? Antes de procurar saber se um determinado remédio pode causar algum malefício, devemos antes procurar saber se a pessoa que pretende se automedicar está mesmo enferma ou se está apenas procurando qualquer coisa para ter uma “fuga”, como vários pacientes já admitiram posteriormente. No caso de pessoas que realmente precisam de tratamento, o ideal é procurar um psiquiatra e seguir sua recomendação. Tenha em mente que alguns psicotrópicos demoram pra fazer efeito, então você precisa ter persistência e disciplina. Se for preciso fazer alguma alteração no tratamento, não se preocupe, pois o seu psiquiatra fará isso.

Sempre siga orientação médica!

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